terça-feira, 5 de novembro de 2019

4- PÁGINA FIM DO MUNDO

OS FINISTERRES ATLÂNTICOS 

OS FINISTERRES ONDE ACABAVA, BEM ANTES DO CRISTIANISMO E DA FUNDAÇÃO DE COMPOSTELA, O ANCESTRAL CAMINHO DAS ESTRELAS,  SÃO ESCORPIÓNICOS CENÁRIOS DE MEDITAÇÃO, MORTE E REGENERAÇÃO, SANTUÁRIOS NATURAIS, NÉMETONS.

A MORTE É O COMPLEMENTO DA VIDA, FLUJO, REFLUJO, ENTARDECER E AMANHECER… ACABANDO DE MATAR EM CADA MOMENTO AQUILO QUE JÁ ESTÁ QUASE MORTO, REGENÉRO-ME.

 EU SOU A TRANSFORMAÇÃO MESMA. A MINHA MENTE DEVE TRANSFORMAR-SE PARA SE MANTER LIMPA E VIVA, CONECTADA E CRIATIVA.

ANTECEDENTES:

Toda a Galiza é uma terra meiga ou mágica, porém, onde mais mágicas e sugerentes voltam-se as as suas paisagens é entre as penínsulas, cabos e ilhas que enquadram as Rias Baixas e Altas. Em eras remotas, a península Ibérica levantou-se por oriente e submergiu-se por ocidente, tal vez isso tenha a ver com lendas tais como as do afundamento da Atlántida. 

O oceano inundou os cauces dos rios e vales que chegavam a él desde o maciço Galaico e formaram-se essas bahías belísimas que chamamos Rias, onde o pélago faz-se doce.

 
Também desde tempos remotos, mas não tanto, os buscadores de conhecimento de todas as tribos européias converteram ao sol no seu deus e modelo inspirador, com o que o percurso solar do leste ao oeste considerava-se a trilha iniciática por excelência, a mesma que, na noite, era chamada o Caminho das Estrelas.

Contava-se que, ao seu final, acabava o mundo ali onde o sol poente era engulhido pelo mar, e que as almas dos corajosos benaventurados e iluminados que até aquele ponto conseguiam chegar, trascendíam a um nível superior de consciência através de portais que abriam-se para eles ante as Ilhas dos Deuses.


Ilhas dos Deuses superpostas às paisagens comuns, que só apareciam no horizonte final, em todo o seu esplendor, para aqueles que mais ampliaram os seus níveis de sensibilidade e percepção durante a sua viagem de heróis ou heroínas ao fim do mundo.

Uma concha pegada naquelas remotas praias, pendurada na frente do lar do aventureiro retornado à sua pátria, mostrava a todos que ali morava uma pessoa que teve coragem para chegar até o final de todos os caminhos e que conseguira retornar sábia, para contá-lo.
 
Muitos séculos depois, os povos nómades de línguas indoeuropeias que apacentavam os seus rebanhos ao norte do Cáucaso, entre os mares Negro e Cáspio, começaram a fabricar armas e rodas resistentes para as suas carroças com o ferro, cuja metalurgia desenvolveu-se na Anatolia.

Então, para o 1200 A.C, a viagem iniciática de umas poucas individualidades excepcionais pôde-se converter numa oportunidade para multitudes.

Em grandes migraçoes, os clãs e as tribos caucásicas foram cruzando a Europa toda para o oeste, pelo sul e pelo norte, tentando estabelecer-se o mais perto possível do Oceano do Fim do Mundo e das Ilhas dos Benaventurados ou Afortunados, o seu sonhado Paraíso, levando as línguas e mitos que hoje chamamos celtas, até os verdes finisterres atlánticos.


Un daqueles finisterres, o primeiro que atopam os que vêm de Portugal, era o que hoje denominamos a Península de Morrazo, que separa as rias de Pontevedra e Vigo. No seu extremo encontra-se o Cabo do Home, apontando, pelo sul, para as ilhas Cíes, e pelo norte, para as de Ons. 
No arranque do cabo e dominando a paisagem, alçam-se os 186 metros de altura do monte Facho de Donón. 

Facho significa, em Galego, tocha, já que esteve coroado por uma garita de vigilância que acendia uma fogueira para avisar ao interior do avistamento de saqueadores marítimos.

 A cimeira do monte é um jacimento arqueológico dos mais importantes da Península Ibérica, apesar de que não se excavaram mais que as camadas superficiais do terreno.







 Com toda segurança, aquele morro do Fim do Mundo desde o que se divisam as Ilhas dos Deuses foi um dos principais santuários ancestrais, lugares de poder ou németons, que marcavam o final do Caminho das Estrelas aos peregrinos de antes de Cristo.

Desconhecemos baixo que advocação achava-se o santuário que hoje chamamos de Donón nas remotas Idades de Pedra, do Cobre e do Bronze, mas, da Idade do Ferro, a Idade Média recolheu e conservou as lendas irlandesas que falam de Éber Donn, Érimon e o mago Amergin, como líderes dos Filhos de Mil, os Miftryhft ou os celtas goidélicos que, procedentes da Galiza, protagonizaram a última das invasões da Irlanda, arrebatando-lha  aos conquistadores anteriores, os poderosos Tuatha Dé Danann.


DONÓN OU DONN

De acordo com a mitología irlandesa,Donn, um guerreiro Fianna, procreou na bela Crocnuit a Diarmuid, arquétipo do amor e da harmonia que surgem trás a resolução do conflito. Donn é considerado o pai dos irlandeses; uma posição similar à de Dis Pater, senhor do Transmundo entre os galos, conforme o observado por Júlio César nos seus escritos.



 
Durante a conquista da Irlanda, Donn ofendeu a Ériu, ou Erinn, uma das deusas que dão nome àquela terra, e morreu afogado ao longo da sua costa sudoeste.

Numa pequena ilha rocosa dela, denominada Bull Rock ou Teach Duinn (a Casa de Donn), disse-se que se encontrava a sé de Donn, transcendido agora, pelo perdão e a ajuda da deusa, como o Senhor dos Mortos, ou o Escuro, ou a Negra Sombra, o mesmo arquétipo do Osiris egípcio, que também concede a regeneração interdimensional aos iniciados que a mereceram. A casa de Osiris, como a de Donn, era o lugar de reunião dos mortos gloriosos, justo antes de iniciar a sua jornada triunfal para o Transmundo, o paraíso dos heróis e os benaventurados.


Dados sobre Donn
https://cangas.gal/turismo/info.php/es/6 https://ifc.dpz.es/recursos/publicaciones/26/22/35koch.pdf



Históricamente, afirma-se que o trânsito naval comercial entre a península e as ilhas britânicas existia já na Era do Bronze Atlántica. Também há provas, desde o ponto de vista linguístico, de que o idioma gaélico irlandês pertencia à mesma família que as línguas pre-romanas do norte de Espanha, diferenciando-se das de Gales ou Cornualhes, estas pertencentes à rama bretona da língua céltica. Os séculos IV e III a. C. marcaram o auxe do poder celta nas diferentes partes da Europa.


Ainda que todas essas lendas (recolhidas muitos séculos depois, século XI, no Livro das Invasões da Irlanda ou Lebor Gabála Érenn), são muito vagas, mitolóxicas, remotas e discutíveis, uns estudos da Universidade de Oxford vieram confirmar, em 2006, trás realizar uma prova de ADN a 10.000 britânicos, que a maioria dos povoadores destas ilhas tem idênticos gens que os do noroeste da Península Ibérica.
https://es.wikipedia.org/wiki/Lebor_Gabála_Érenn https://www.youtube.com/watch?v=m8XirXeRitc 

As excavaçoes, ainda superficiais, praticadas até agora no Facho de Donón da Península de Morrazo, permitem especular que, realmente, o monte já era um muito conhecido lugar de poder na Idade do Bronze. 

Mas o que sim pode-se comprovar documentalmente é que num tempo bem mais tardio, já na Era Romana, continuava a se-lo, baixo a advocação do deus lar Bero Breo, segundo consta na maioria das inscripcoes, de quem não se conhecem outros santuários nem referências.

Parece que os lares eram os espíritos protectores mais próximos aos humanos, alguns cuidando do lar, outros, dos viajantes ou dos navegantes. Eram filhos de Mercurio e de Lara, uma náiade ou ninfa da água. Inumeráveis peregrinos chegavam até o castro de Beróbriga em Donón, confeccionavam toscamente ou adquiriam uns altares de pedra do cabo mais refinados, todos em forma de coluna, subiam à cimeira do morro, os plantavam em terra olhando às Ilhas Sagradas e faziam sobre eles oferendas de vinho ou azeite perfumado, pedindo ao Senhor da Vida e da Morte, chamado nos tempos de Roma Bero Breo, saúde e regeneração.




 Dizem os arqueólogos que a cimeira do monte chegou a estar tão erizada de aras votivas que teve que ser ampliado para que coubessem mais, apesar de que as mais antigas e danadas pela intemperie iam sendo reemprazadas pelas novas. Acima, uma recreación fantasiosa de Manuel Castelin, usando Photohop.


Com a chegada do Cristianismo, substituiu-se o culto de Bero Breo pelo de São Andrés, um santo no que sincretizou-se a figura pagana de Hermes, o guía das almas ao outro mundo, cujos devotos continuaram as suas peregrinações às ermidas sanadresinas que a Igreja levantou nos diversos finisterres atlánticos. Muitas das aras votivas foram usadas como alicerces do povoado cristão.



 POR TODAS ESTAS REFERÊNCIAS E, ESPECIALMENTE, PORQUE TRATA-SE DO LUGAR MAIS MÁGICO, EVOCADOR DO INFINITO E PROPÍCIO À MEDITAÇÃO DE TODO O FINAL DO CAMINHO, é porque o autor destas Cartas Guia não se conforma com que a Via das Estrelas para a ampliação e regeneração da mentalidade dos peregrinos da autoconsciencia fique só restringida às rotas e as tradições da Éra Cristã ou às conveniências turísticas contemporâneas, e propõe a descoberta intuitiva da Península de Morrazo (não só a contemplación do cabo do seu extremo, senão também a meditación nas mámoas ou dólmenes da sua cima) aos buscadores mais livres e sensíveis, como efectiva Variante Atemporal neste trabalho, que guia-se, especialmente, por sentir o momento, sentindo-se integrado com a vibração de cada lugar.

O mesmo vale, sen dúvida, para o resto das praias, penínsulas e montes das outras Rías Baixas e Altas, evocadores santuários naturais (németons para os celtas), portais interdimensionais,  laberínticas metas do Caminho Precristão.

  O Cabo de Hermes, o cabo mais ocidental da Costa da Morte.


Labirinto imaginado de Monte Pión  ao  fundo da Praia de Mar de Fóra, Cenário-meta do romance de  M.Castelin " VIAGEM DE ORFEU AO FIM DO MUNDO"

Este é o lugar onde realiza-se a Iniciação de Orfeu ao Labirinto, a fim de prepará-lo para descer ao Mundo dos Mortos e retornar, para o qual é necessário acabar completamente de compreender e harmonizar  as circunstancias do Ciclo Vivencial Presente.
(CONTINUAREMOS, A PARTIR DAQUÍ, DEPOIS QUE O PEREGRINO TENHA CHEGADO EM GALIZA.)

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